“Quanto mais escura é a noite, mais luminosa parecerá a madrugada do novo dia” (Dom Helder Câmara)

por Marcelo Barros

 

Nesses dias de final de ano, nossas ruas, praças e cidades recebem iluminação especial para as festas de final de ano. Antes de ser a festa cristã do nascimento de Jesus, o Natal nasceu como celebração do solstício do inverno no hemisfério norte. Precisamos retomar essa contemplação da natureza que se renova e ressurge do risco de morte. Atualmente, essas festas de final de ano servem como momento de confraternização entre as pessoas e nos fazem sentir que toda a humanidade é uma só família e tem por vocação a irmandade universal.

Apesar da beleza das luzes do Natal, a humanidade continua mergulhada em noite muito escura. A pandemia do coronavírus ainda nos ameaça. E a organização do mundo a partir do sistema capitalista provoca mais morte e dor do que a pandemia. Além disso, ao tratar a mãe Terra e a natureza como meras mercadorias, ameaça o futuro da vida no planeta e provoca catástrofes ambientais que atingem principalmente as populações mais pobres. É urgente libertarmos o mundo dessa escuridão eco-social provocada pelo desamor.

Para isso, nos comunicamos com vocês, em nome do Amor que as comunidades cristãs acreditam que se fez humano na pessoa de Jesus.

Ninguém dá vida a si mesmo. Todas as pessoas recebem a vida de seus pais e mães. Maria Zambrano, filósofa espanhola do século XX, afirmava que se a vida é sempre doada de um ser a outro, é dada para ser desenvolvida. Ninguém nasce de uma vez por todas. O nascimento é começo de um processo que consiste em nascimentos constantes. Nascer não é apenas evento do passado, recordado no dia do aniversário. Coloca-se diante de nós, como algo a ser aperfeiçoado e continuamente completado. Como todo ser vivo, somos mortais. No entanto, somos principalmente natais, no sentido de sermos chamados a continuamente nascer. Viver é renascer continuamente, como renasce a aurora de cada novo dia. Comunicamo-nos com vocês em nome da humanidade, em nome da mãe Terra e em nome da água, mãe da Vida e direito universal de todo ser vivo.

Convidamos vocês a fazer deste Natal uma celebração que una toda a humanidade na defesa da cidadania universal de todo ser humano e, de modo especial, na luta para impedir que transformem a água em mercadoria e, pior ainda, em papéis de negócio em Bolsas de Valores.

Celebramos como sinais de Natal a resistência dos povos originários, os esforços para consolidar uma multiconvergência de redes sociais e convidamos vocês a nos unirmos em uma grande Ágora de habitantes da Terra.

Feliz Natal e um ano novo que seja verdadeiramente novo!

 

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